A África precisa não só de doações, mas também de ensino bíblico, diz missionário

O missionário Saulo Porto, diretor de ensino da Missão Mãos Estendidas, fala sobre a necessidade de discipulado nas nações africanas.


Povoado na África
Embora as doações para comunidades necessitadas na África sejam comoventes, são os fundamentos estabelecidos através do ensino bíblico que transformam as pessoas, de acordo com o missionário Saulo Porto, diretor de ensino da Missão Mãos Estendidas (MME).

Em entrevista ao Guiame, Saulo explica que aulas de formação bíblica não são atraentes em termos de missões, mas o ensino é essencial para o estabelecimento de alicerces em uma nação.

“É muito ‘fácil’ chegar em qualquer aldeia africana e distribuir farinha. É importante? É. Mas daqui cem anos você vai voltar e encontrar o mesmo povo querendo farinha. No entanto, se você começar a trabalhar com o processo de educação, com os fundamentos — é o tipo de trabalho que poucas pessoas veem — você está desenvolvendo a vocação de uma criança ou o potencial de discípulo de um pastor, e isso faz com que aquela pessoa caminhe em direção à vontade de Deus”, afirma.

Porto observa que os países da África apresentam diferenças em sua cultura e espiritualidade. Enquanto algumas nações africanas possuem tradição protestante, outras passam por costumes católicos e até animistas, tornando-se mais resistentes às mudanças.

“Segundo a tradição protestante, as pessoas precisam ser educadas para se desenvolver dentro da sociedade. Quando você vai para outro tipo de missiologia — por exemplo, quando acreditamos que o importante é apenas a salvação da alma — você não se importa muito com esse tipo de desenvolvimento humano”, analisa o missionário.

“O que você quer é evangelizar a pessoa, colocar ela na igreja e esperar Jesus voltar para ela ir para o céu. Desse jeito, você consegue logicamente o principal na vida da pessoa, que é a salvação, mas ela não se desenvolve e não se torna discípula”, acrescenta.

Para exemplificar Porto cita Moçambique, que é extremamente aberta para o Evangelho, mas “muitas igrejas não enfatizam a parte do ensino e desenvolvimento do discípulo”. Já em outras nações de tradição britânica ou protestante, como Zâmbia, Zimbábue e Malawi, é possível observar pessoas “valorizando muito mais a parte do ensino”.

Quando se trata de questões teológicas e doutrinárias mais profundas, Porto esclarece que o importante é estabelecer os “absolutos morais” durante o ensino no campo missionário.

“Quando nós focamos nos absolutos estamos discipulado a nação, ao invés de estarmos discutindo qual é a cor da asa do anjo”, exemplifica. “O que fazemos é colocar ênfase nos absolutos morais que vão transformar a vida do povo”.

Preparação ministerial

Porto esclarece que não há como estabelecer um currículo que sirva de pré-requisito para o campo missionário, mas é preciso estar em constante preparação. “O bom missionário é aquele que aprende a ouvir a Deus e obedecer”, destaca.

Ele ainda dá um conselho para as pessoas que desejam ser missionárias: “Não existe nenhum chamado repetido. Todo chamado é original. Você não desenvolve seu chamado fazendo Ctrl+C e Ctrl+V. Você tem que descobrir qual o caminho específico que Deus tem para sua vida. Por você ser uma pessoa original e única, o seu chamado também é original e único. Você precisa saber quem você é em Deus”.

Esta é a mesma ênfase dada por Porto aos pastores de aldeias africanas durante o Seminário Bíblico Intensivo, promovido pela MME. “Trabalhamos muito para desconstruir aquela ideia de que trabalhamos para Deus”, afirma. “Antes de trabalhar para Deus, somos chamados a trabalhar com Deus. Neste aspecto é que surge o missionário”.

“Porque o missionário não é aquele que faz coisas que ‘dão na telha’ para Deus, mas são pessoas que decidiram trabalhar e caminhar com Deus e executar as ideias e a agenda do Reino de Deus nas nações”, acrescenta.


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