Golpe em Mianmar: o impacto para os jovens

Conheça a história de sobrevivência e esperança de Ko Aung, um jovem cristão, em meio ao golpe militar de Mianmar.

Mesmo diante dos desafios enfrentados pela pandemia e golpe militar, a esperança de Ko Aung de que dias melhores virão está no Senhor

Ko Aung vem de uma família budista e viveu em uma comunidade em Mianmar de maioria budista. Ao chegar à idade adulta, foi trabalhar em uma cidade próxima, porém enfrentou desafios. Lá, conheceu cristãos que permitiram que vivesse com eles. “No começo, neguei o evangelho. No fim, por causa do amor de Jesus, eu o aceitei como meu salvador”, compartilha. Ao aceitar a Jesus, a vida dele mudou.


O jovem continuou trabalhando na cidade até a pandemia, em 2020. Por conta do lockdown e das restrições na cidade, partiu para sua cidade natal. No caminho, encontrou uma comunidade de cristãos tribais. Ele participava dos cultos e passava tempo com os jovens cristãos. “Como toda nossa comunidade e membros da minha família são budistas não há igrejas na vila. Quando queria participar do culto ou ter contato com cristãos tinha que ir para a igreja nas vilas cristãs perto da cidade”, explica.


Ko Aung continuou trabalhando remotamente de casa e ajudando colegas. “Quando a pandemia começou, as estradas que ligavam a cidade às vilas foram bloqueadas e o transporte se tornou um tanto desafiador. Os cristãos étnicos não poderiam vender seus produtos agrícolas; assim, ficou mais difícil para eles consegur comida e sobreviver.”


Quando Ko Aung viu a necessidade dos cristãos, buscou ajuda da comunidade cristã e também os ajudou. Além disso, com o auxílio de parceiros da Portas Abertas, o jovem levou à comunidade até mesmo remédios durante a pandemia. Apesar disso, como outros jovens em Mianmar, ele também enfrentou dificuldades, mas esperava que elas passassem. Entretanto as coisas pioraram.


A vida durante o golpe

A pandemia foi seguida pelo golpe militar, que aconteceu em 2 de fevereiro de 2021. Com isso, as esperanças de Ko Aung por um futuro melhor foram destruídas. Ele trabalhou de casa como qualquer trabalhador jovem faria. “Durante o período da COVID-19, eu mantive contato com o grupo de cristãos étnicos da região. Depois de um tempo, o golpe militar aconteceu. Porém, com isso, os militares viam os jovem como suspeitos. Sentíamos como se nos observassem de perto a cada movimento”, conta.


Os jovens se reuniam para protestos pacíficos nas ruas exigindo por democracia, mas os protestos logo se tornaram repressões violentas e agitaram todo o país. Muitos jovens fugiram para as montanhas por medo de serem presos pelo militares.


Como Ko Aung tinha amizade com cristãos, isso levantou ainda mais suspeitas de apoiadores dos militares. “Os pró-militares suspeitavam que eu apoiasse grupos armados étnicos e forças antimilitares. Além disso, meu trabalho é ajudar outros com os computadores deles e dar suporte online. Quando algumas pessoas vieram à minha casa perguntando por mim, eles ficaram sabendo que eu trabalhava do meu quarto”, afirma.


Os vizinhos suspeitaram, achando que Ko Aung apoiava grupos de resistência antimilitar. “Eles suspeitaram de mim já que eu ia aos lugares onde viviam cristãos étnicos.” Para os moradores da vila, o jovem — que costumava ser budista e agora era amigo de cristãos — se tornou terrível e inaceitável. Por isso, a suspeita aumentou e o colocaram em uma lista de suspeitos, acusando-o de ser antimilitar.


Os militares pegavam jovens rapazes e os agrediam, tratavam como criminosos, faziam falsas acusações e os mandavam para a prisão com acusações sem sentido.


Consequências do golpe

“Quando os soldados acamparam perto da vila, eu, que estava na lista de suspeitos, decidi não viver mais na minha casa. Fugi de casa e me escondi nas florestas por duas ou três vezes.” Cada vez que o exército vinha se tornava mais incoveniente para Ko Aung fugir e se esconder, já que as visitas se tornaram frequentes e imprevisíveis. “Todos se conhecem bem na vila, já que ela é pequena, e eles suspeitavam que eu apoiava a Força de Defesa do Povo (PDF, da sigla em inglês). Então, decidi ficar com parentes em um lugar seguro.”


Os cristãos que Ko Aung visitou também foram afetados pelo conflito. Eles não estavam mais seguros em suas vilas e também saíam para se esconder na floresta quando os soldados vinham. Além disso, eles se tornaram vítimas da guerra civil, sendo acusados erroneamente de apoiar grupos antimilitares. Eles não podiam mais viver em suas casas, plantar e ganhar renda.


Além disso, os militares continuaram as operações para prender jovens. Ko Aung, agora rotulado como apoiador de grupos antimilitares, começou a enfrentar outras consequências. “Começou com minhas contas bancárias online sendo suspensas. Na época, poupanças normais e a tranferência direta de dinheiro continuavam funcionando. Porém, um mês depois, meu empregador tentou transferir dinheiro para minha conta, mas descobriu que ela também tinha sido suspensa.”


Além disso, o Cartão de Identidade de Registro (NRC, da sigla em inglês) dele foi marcado, o que não permitia que dinheiro fosse recebido ou transferido. Ou seja, todas as transações foram bloqueadas. Isso significa que Ko Aung não era mais considerado um cidadão em Mianmar.


Apesar de tudo, Ko Aung espera estar novamente com a família e ora por paz: “Um dia, quando as coisas melhorarem, quero estar com minha família, fazer uma refeição com eles, assistir TV juntos. Quero abraçar meus irmãos. Eu sinto falta de casa”. Mesmo com a ampla distância que o separa da família e da cidade natal, tudo parece mais próximo devido a esperança em Deus. Ele se se conforta: “Nosso Deus é Emanuel e está conosco sempre, o tempo todo. Quando estou em um momento difícil, ele me guia. Embora eu enfrente dificuldades, sofrimentos e tristezas, toda a comunidade cristã sofre. Eu creio que ele tem planos melhores para todos nós, então apenas me mantenho crendo e continuo vivendo a vida”. Ko Aung também ora pela comunidade de cristãos étnicos, esperando um dia poder voltar lá.


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