Sobrevivente do Carandiru conta que foi protegido por 'anjo' após clamar a Deus na cadeia

O pastor Rodney Silva compartilhou durante uma live com o Portal Guiame como Deus transformou e restaurou sua vida.


Rodney Silva é pastor, escritor e autor do livro "O Restaurador de Vidas". (Imagem: Guiame / Youtube / Reprodução)
Na última sexta-feira, o portal Guiame conversou durante uma live com o pastor e escritor Rodney Silva, que compartilhou mais sobre a sua história, contada no livro “O Restaurador de Vidas”.

Durante a entrevista exclusiva, Rodney comentou experiências que vivenciou no Carandiru, como ter sobrevivido ao massacre ocorrido na desativação do complexo penitenciário e também em outros presídios por onde passou, como quando teve seu clamor a Deus atendido de uma forma surpreendente.

Confira abaixo alguns dos momentos impactantes dessa live:

O terrível Pavilhão 9

Rodney contou que justamente o fato de estar viciado em drogas na época que chegou ao Carandiru ainda o fazia estar alienado da realidade que estava para enfrentar.

“Quando eu entrei naquele lugar, não sabia onde estava entrando. O uso da droga me levava a situações de ainda não cair na realidade do que estava acontecendo na minha vida. E o impactante deste momento foi quando eu entrei lá e uma pessoa chegou para mim e falou: ‘Eu vou te dar um anjo da guarda’. Eu falei: ‘Não preciso de anjo da guarda’ e ele me falou: ‘você precisa, sim. Você precisa se defender’. O que aquele cara me deu como anjo da guarda era uma faca”, relatou.

“Um dia, um homem, muito maior do que eu, muito mais forte, falou para mim: ‘Você vai ser a minha mulher’. Ali, naquele momento, eu comecei a entender que eu estava em um presídio e que eu teria que aprender a sobreviver todos os dias, que eu teria de dormir com um olho fechado e outro aberto”, acrescentou.

O pastor relatou que o Pavilhão 9 era, de fato, muito temido e ao mesmo tempo respeitado pelos outros internos da cadeia.

“O cara não precisava fazer nada, mas só dele ter dormido uma noite no Pavilhão 9, o conceito dele era muito maior que os de outros pavilhões. Era respeitado no mundo do crime”, contou. “O teu ego fica de uma forma que você acha que está protegido, mas mal você sabe que está sendo perseguido todos os dias, porque todo aquele presídio tem o desejo de ficar no Pavilhão 9”

“Foram momentos muito tortuosos, muito difíceis, em que conheci amigos de rua, que andavam comigo, mas que não pude defender no momento em que morreram. Eu os vi morrer na minha frente”, acrescentou.

“Olhando para o que aconteceu na minha vida, hoje, pela Palavra de Deus eu entendo: sou um milagre”, confessou.

Palavras X Atitudes

Rodney revelou que na época que esteve no Carandiru viu uma situação um tanto interessante sobre a aceitação dos internos com relação ao Evangelho.

“Naquela época, [os internos do] Carandiru tinham muito cuidado com as pessoas que entravam para evangelizar. Eles favoreciam aquele que entrava, falava da Palavra de Deus e saía, que tinha autoridade para falar da Palavra de Deus, mas não confiavam naquele que estava preso e falava da Palavra de Deus. Diante de alguns contextos, de algumas rebeliões, a gente descobria que o cara era um estuprador, que o cara matou uma criança e que ‘se escondia’ no Evangelho”, explicou. “Eu pensei: ‘se um dia eu conhecer esse Jesus, não quero isso para me esconder. Eu não preciso me esconder’” .

Por outro lado, o escritor compartilhou que teve contato com pessoas dentro do complexo penitenciário que o impactaram, não por suas palavras, mas sim por seus atos.
“Conheci pessoas que não falavam 24 horas por dia de Jesus, mas tinham palavras sábias para poder acalmar o meu coração naquele momento difícil. Essas pessoas não se envolviam em brigas, mas liam a Bíblia. Aquilo me chamava a atenção”, destacou.

“Essas pessoas não falavam para mim: ‘Entrega a tua vida para Jesus’, mas falavam: ‘Você vai passar por uma experiência que só Deus vai te mostrar’ ou ‘A experiência que você vai ter com Deus vai ser enorme para a sua vida’”, acrescentou.

“Protegido por um anjo”

Após sair do Carandiru, a passagem do Pavilhão 9 em seu histórico dificultou sua transferência para outros presídios e isso foi algo que o deixou preocupado, mas também proporcionou uma forte experiência com Deus.

“O Meu contato diretamente com o Senhor foi no momento mais difícil da minha vida, quando eu cheguei a perceber que não tinha mais para onde ir. Mas que eu tinha que reconhecer que perdi o controle da minha própria vida. E quando eu reconheci que perdi o controle da minha própria vida, tive que gritar: ‘Deus, se o Senhor existe, me tira deste lugar. Eu não aguento mais’”, contou.

“Eu não conseguia parar nos presídios, porque havia passado pelo Pavilhão 9 [no Carandiru]. Era considerado um cara problemático. Quando apareceu a oportunidade da penitenciária do Pacaembu, não acreditei que conseguiria entrar”, explicou.

Ao chegar na penitenciária do Pacaembu, no Mato Grosso, ele logo encontrou aquele que seria mais que um grande amigo lá dentro: o seu protetor e conselheiro.

“Mas o que eu me lembro é que ao chegar lá, um cara muito maior que eu chegou para mim e disse: ‘Ei, você vai ficar na minha cela’. Eu pensei: ‘E agora? O cara é maior que eu. Vai ser mais um [que vai tentar abusar de mim]’. Naquele momento eu não esperava que aquele cara se tornaria mais que um irmão para mim, mas sim um pai”, disse.

“Ele me falava: ‘Você só tem três coisas para fazer neste lugar. Primeiro, quero você trabalhando e tirando a sua remissão; segundo, nada vai acontecer com você até você sair deste lugar; terceiro, confie em Deus que o melhor ele vai fazer na sua vida’”, acrescentou.

“Quando Rodney conseguiu sua liberdade, logo contou à sua mãe o que aconteceu no presídio do Pacaembu e pediu: ‘Prepara um jumbo [sacola com alimentos e itens de higiene] para eu mandar ao meu amigo, porque ele foi muito bom para mim’”, relatou.

Ao voltar àquele presídio, Rodney descobriu que seu amigo, na verdade, nunca havia dado entrada naquele presídio, muito menos teve sua saída registrada.

“Ninguém sabia o nome desse cara, ninguém viu esse cara. Ele não fazia parte de nenhuma penitenciária. Até hoje eu procuro e não consigo encontrá-lo”, contou. “Foi nesse momento que eu entendi que ali eu tive um anjo da guarda. Um cara que esteve ali para me proteger. Foi como ver Jesus em pele”.

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