Partido Comunista paga cidadãos para espionar igrejas na China

Recompensas em dinheiro são oferecidas aos cidadãos que denunciarem igrejas 'clandestinas' com fotos e os endereços dos locais onde elas funcionam.


A foto de uma igreja clandestina, por exemplo, pode valer cerca de 500 RMB (ou 70 dólares) quando entregue a oficiais do Partido Comunista Chinês. (Foto: meme-asia.com)
Funcionários do Partido Comunista em uma das províncias mais populosas da China estão oferecendo recompensas em dinheiro aos cidadãos que relatam "locais de atividade religiosa ilegal", incluindo igrejas clandestinas, de acordo com um novo relatório.

Em agosto, (2020) o Escritório de Assuntos Étnicos e Religiosos do condado de Gushi, na província de Henan, começou a oferecer aos cidadãos 500 RMB (cerca de US$ 70) para coletar fotos, vídeos, gravações de áudio e outros materiais de quaisquer atividades religiosas ilegais, de acordo com o relatório da revista ‘Bitter Winter’, que monitora as violações da liberdade religiosa na China. Henan é a terceira província mais populosa da China.

Os cristãos na China só têm permissão para adorar em uma igreja que faz parte do Movimento Patriótico das Três Autonomias (para Protestantes) ou da Associação Católica Patriótica Chinesa. Mas como ambas as denominações enfrentam severas restrições — incluindo um limite no que é pregado — milhões de cristãos adoram em igrejas clandestinas, consideradas “ilegais”.

As igrejas clandestinas costumam se reunir em casas ou prédios alugados. A postura do condado em relação às igrejas ilegais fez com que um proprietário parasse de alugar seu imóvel para um grupo de cristãos, relatou o Bitter Winter.

“Incentivado pela propaganda do governo, o proprietário nos expulsou, recusando-se a nos alugar sua propriedade”, disse um membro da igreja clandestina. “Ela explicou que não queria sofrer consequências se nosso local fosse descoberto. O Partido Comunista Chinês não vai parar até que elimine todas as crenças religiosas”.

Recompensas monetárias estão sendo oferecidas em outras partes da província, incluindo nas cidades de Mengzhou, Jiyuan e Shangqiu.

“O governo exerce controle estrito não apenas para conter o desenvolvimento de igrejas das Três Autonomias, mas também para proibir as igrejas domiciliares, por medo de que ajudem a derrubar o regime”, disse um funcionário do governo local à Bitter Winter.

Oficiais do governo até pediram aos membros da igreja Three-Self que delatassem igrejas clandestinas ilegais. Tal pedido foi feito na província de Hubei, onde o governo convocou uma reunião em junho com 20 clérigos de igrejas legalizadas pelo Partido Comunista.

“O governo nos pede que façamos uma ‘doação’ a eles, desconsiderando que nossa igreja está fechada há meses”, disse um dos clérigos à Bitter Winter. “Funcionários nos disseram que, uma vez que não temos dinheiro para dar ao governo, devemos encorajar os crentes a espionar locais não registrados e coletar recompensas por isso. Receberíamos dinheiro suficiente após vários desses relatórios, disseram eles. Sabemos quem frequenta igrejas domésticas, mas não faremos nada contra nossa consciência. Todos devem ter o direito de praticar sua fé”.

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