Tim Keller diz que a cultura do cancelamento gerou uma ‘crise’ da falta de perdão

O pastor destacou que o perdão está na essência do Evangelho e deve fazer parte da vida cristã.

O pastor destacou que o perdão está na essência do Evangelho. (Foto: Reprodução/The Christian Post).

Tim Keller afirmou que a cultura do cancelamento gerou uma “crise” da falta de perdão nos últimos anos.

Em entrevista ao The Christian Post, sobre seu novo livro “Forgive: Why Should I and How Can I?” (“Perdoar: Por que devo e como posso?”, em tradução livre), o pastor disse que percebeu uma tendência entre as novas gerações: elas estão cada vez mais desconfortáveis com a ideia de perdão.

“Eles não sabem como perdoar e nem mesmo têm certeza de que deveriam. A ênfase dos jovens em fazer justiça é importante, e o perdão parece contradizer a justiça. Esse é um problema”, observou Keller.

“E, em segundo lugar, vivemos em uma cultura em que as pessoas não conversam cara a cara. Elas não sabem como lidar com conflitos ou discordâncias”.

Para o autor, em um tempo de muitos conflitos sociais, é preciso discutir sobre perdão. “Há um momento cultural aqui em que acho muito importante falar sobre perdão. Vivemos em uma cultura muito fragmentada, polarizada, há muita raiva e as pessoas estão realmente atrás umas das outras. O perdão não está no ar”, avaliou.

O pastor, de 72 anos, ainda destacou que o perdão está na essência do Evangelho e deve fazer parte da vida cristã.

“Na Oração do Pai Nosso, a única declaração que Jesus repete é: 'Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores'. E então, no final da oração, Jesus acrescenta: 'Se você não perdoa as outras pessoas, então não há razão para que Deus o perdoe'”.

Segundo Timothy Keller, a justiça e o perdão devem andar juntas. “Você precisa perdoar para buscar justiça, porque se você não perdoar, estará buscando a vingança. Sua motivação tenderá a ser a raiva. A raiva te consome, o amor te preenche”, comentou.

Casos de abuso sexual

Como exemplo, ele citou o fato de como a Igreja lidou mal com os casos de abuso ao longo da história, pressionando as vítimas a “perdoar e esquecer”. 

“Nas décadas de 1970 e 1980, havia uma tendência por parte das igrejas evangélicas de pensar: 'Tudo o que temos a fazer é levar as pessoas a se arrependerem e perdoarem e não saírem para o mundo; podemos resolver tudo'”, lembrou. 

“Mas quando se trata de abuso infantil, abuso sexual ou violência doméstica, essas coisas são contra a lei. E se você pensa 'Não queremos sair por aí, vamos lidar com isso aqui mesmo', então é realmente muito ruim para as vítimas”.

E o pastor ponderou: “Isso não elimina a necessidade do perdão. Mas temos que admitir que as igrejas evangélicas usam isso como uma arma contra as vítimas, e essa é outra razão pela qual foi desacreditado até certo ponto”.

Embora enfatize que a reconciliação é sempre o objetivo do perdão, Keller lembra que em alguns casos isso não é possível.

“Perdoar alguém não significa que você deva confiar nele; acho que a confiança volta, gradualmente. Talvez eles não tenham mudado ou talvez não tenham mudado rápido o suficiente”, afirmou.

Pastores que caem

Conforme o autor, o mesmo princípio se aplica quando um pastor ou líder peca publicamente. 

“Eu diria que os pastores que caem certamente devem sair completamente do ministério, mas não apenas por algumas semanas, ou mesmo por alguns meses, e depois voltar como se nada tivesse acontecido – e eu vejo isso acontecendo”, declarou.

“Acho que você precisa reconhecer o que aconteceu e dizer: 'Eu nunca poderei voltar atrás e agir como se isso nunca tivesse acontecido porque estou chamando as pessoas para virem e confiarem em mim quando eu realmente fiz algo muito errado, uma verdadeira quebra de confiança’”.

E acrescentou: “Eles provavelmente não deveriam ser o pregador principal, especialmente se houver algum tipo de má conduta sexual ou má conduta financeira. Eu diria que o perdão não significa uma restauração completa exatamente onde eles eram antes. Na verdade, isso provavelmente não deveria ser”.

Um bom arrependido é capaz de estender o perdão

Keller também diferenciou o perdão cristão do perdão terapêutico centrado no bem-estar pessoal, que é tão pregado nos dias de hoje.

“Se o propósito principal do perdão é 'Como posso ficar feliz?', você não está perdoando como deveria fazer. Acho que perdoar não é apenas para lhe dar paz interior, mas para torná-lo um agente de reconciliação no mundo”, destacou ele.

Tim exortou os cristãos a examinarem seus corações e se arrependerem de seus pecados constantemente, porque só quem for um bom arrependido, será capaz de estender o perdão ao outro.

“Basicamente, o que prepara você para perdoar outras pessoas é você ir buscar o perdão de Deus, chorar e agradecer a Ele por isso. E perceber que somente por causa do que Jesus fez, Ele é capaz de lhe dar essa incrível misericórdia”, comentou.

E Keller concluiu: “Então, se você estiver em uma posição em que precisa perdoar as pessoas, não será difícil – ou pelo menos não será tão difícil”.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem