Eritreia tem nova onda de cristãos presos; mais de 400 estão detidos

Berhane Asmelash, da Release International, estima que hoje a Eritreia detém 415 cristãos em prisões por causa de sua fé.

A cantora gospel Helen Berhane [à esq.] e Twen Theodros [à dir.] foram presas por sua fé. (Foto: Reprodução/Release International)

Mais uma onda de detenções de cristãos na Eritreia elevou o total de pessoas presas por sua fé para mais de 400, tornando o país em uma gigantesca cadeia.

Uma ex-prisioneira, que passou por tortura sistemática e foi sustentada após uma visão de Cristo que a sustentou, descreve a situação como caótica.

Segundo Release International, com sede no Reino Unido, um de seus parceiros no país relata que 44 cristãos – 39 mulheres e cinco homens – foram presos enquanto se reuniam em suas casas.

Todos estão detidos na prisão de Mai Serwa, nos arredores da capital, Asmara.

'Prisão gigante'

“A Eritreia é como uma prisão gigante”, diz o Dr. Berhane Asmelash, da Release International, organização cristã que apoia a igreja perseguida.

“O país está cheio de prisões. É como a Coreia do Norte”, diz Asmelash, estimando que 415 cristãos estão agora na prisão por causa de sua fé em Jesus.

De acordo com a Release International, muitos cristãos são detidos sem acusação e indefinidamente. Tortura e brutalidade são comuns. Alguns são mantidos em contêineres no deserto, onde “assam” durante o dia e congelam à noite. Outros estão presos há mais de uma década, apenas por se reunirem para orar em suas casas.

A maioria das igrejas foi fechada pela ditadura da África Oriental em maio de 2002, que também proibiu quase todas as religiões, exceto o islamismo sunita, ortodoxo eritreu, catolicismo romano e a igreja luterana.

Os cristãos que continuam a adorar em congregações proibidas são considerados inimigos do estado.

Presos e torturados

Entre os detidos e torturados por sua fé na Eritreia está Twen Theodros, que foi recentemente libertada.

Ela tinha apenas 21 anos quando foi presa e era cristã há apenas dois anos. A condenação de Twen seria o encarceramento pelos próximos 16 anos e intensa perseguição por sua fé. No entanto, ela saiu vitoriosa.

Twen foi detida pela polícia após ser vista saindo de um culto cristão em fevereiro de 2004. Ela ficou presa por um mês, como um aviso severo.

“Eu estava pronta para abandonar minha família, minha educação, meu trabalho, todas as coisas que mais amo. E a minha vida. Lembrei-me do versículo da Bíblia sobre abandonar tudo por Cristo e tomei minha decisão ali mesmo”, disse Twen.

Ela chegou a ser presa novamente no final do mesmo ano durante uma vigília de oração. Era véspera de Ano Novo, quando ela foi trancada em um contêiner por quase três anos na prisão de Mai Serwa, perto de Asmara, onde a última leva de cristãos presos está atualmente detida.

Entre seus companheiros de detenção estava Helen Berhane, a cantora gospel. Ambas se tornaram muito amigas.

Durante seu tempo naquele contêiner, Twen relembra que “muitos crentes, principalmente adolescentes, entravam e saíam da prisão, renunciando à fé para serem libertados. Estes incluíam pastores”.

“Então os guardas da prisão me pressionaram, dizendo: 'Faremos você [renunciar à sua fé] à força. Se você não obedecer, você morrerá’”, diziam a ela.

Palavra de Deus

Twen conta que naquele momento se lembrou do texto bíblico em Mateus 10:32-33: 'Todo aquele que me reconhecer diante dos outros, também eu o conhecerei diante de meu Pai que está nos céus. Mas quem me negar diante dos outros, eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus'”.

Ela relata que depois disso sentiu o Espírito Santo em seu coração. “Comecei a me alegrar. Deus quis mostrar sua glória em minha vida”, diz.

Ela foi separada dos outros prisioneiros cristãos e depois enviada para outra prisão na costa do Mar Vermelho, um dos lugares mais quentes da Eritreia.

Twen foi jogada em uma cela subterrânea, mas em vez de desespero, ela encontrou encorajamento. Ela diz: 'Eu tinha o coração cheio de alegria, porque eu estava com outros cristãos.'

Apesar do calor escaldante, Twen e os outros prisioneiros recebiam apenas um copo de água por dia. Além disso, seus guardas ameaçaram fazê-la sofrer se ela não renunciasse à sua fé. Eles começaram as surras na estação mais quente, conta.

Espinhos

Outro episódio difícil para Twen aconteceu quando, em uma noite, eles a levaram junto com outras prisioneiras para uma área onde os espinhos cobriam o chão e os fizeram correr descalços.

Não satisfeitos, os guardas a espancar sistematicamente cada uma das mulheres.

“Eles foram bem treinados em tortura”, diz Twen. “Eles nos espancaram em um lugar em nossos corpos repetidas vezes para que não desmaiássemos e encontrássemos alívio. Eles queriam o máximo de dor”.

Segundo ela, os guardas tinham um único objetivo: forçar Twen a renunciar à sua fé. Mas ela lhes disse: “Deus me deu a vida; dar a Ele minha vida é uma coisa pequena”. Diante de sua resposta, eles a espancaram novamente.

“Recebi graça para suportar a dor, e quando olhei para as pessoas que me batiam, percebi que embora eu estivesse sofrendo agora, isso me levaria à glória”, diz.

“Meus torturadores estavam rindo, mas eu sabia que o fim deles seria a perda, então comecei a amá-los. Naquele momento, um versículo de Escritura veio ao meu coração e orei: ‘Perdoa-os, porque não sabem o que estão fazendo’. Terminei aquela noite com vitória!”, alegra-se.

Visão

Twen conta que diante do sofrimento houve momentos em que foi dominada pelo medo, mas então Deus lhe deu uma visão:

“Um homem, que se parecia com Jesus, estava segurando uma menina em seus braços. A menina estava feliz e se divertindo, mas o homem estava profundamente aflito, pois a estava protegendo da surra”, conta.

Ela continua: “As varas não estavam caindo sobre mim, mas sobre Jesus, então pude suportar a surra. Ele sempre esteve comigo no sofrimento, de modo que mesmo nisso somos vitoriosos.”

Ela diz que, certa vez, o espancamento foi tão forte que chegou a ver sua alma separada de seu corpo e ouviu o canto dos anjos.

Além de ter que lidar com sua própria dor física, Twen foi obrigada a assistir a dor das outras que também sofriam tratamento brutal. Ele relatou que os guardas bateram em irmãs gêmeas para que tivessem que ouvir os gritos uma da outra. Depois de duas horas, ambas perderam a consciência. Twen estava segurando uma dessas irmãs em seus braços enquanto ela morria.

Twen foi finalmente libertada como parte de uma anistia limitada para 200 prisioneiros religiosos.

'Uma vitória'

Quando reflete sobre seu tempo na prisão e o sofrimento que testemunhou e suportou, Twen traz uma mensagem para os cristãos do mundo livre: “Suas orações me salvaram. Esta vitória é uma vitória de todos nós”.

“A graça de Deus tornou tudo possível. Sinto-me tão abençoada por participar do sofrimento de Cristo. Mesmo agora, não tenho nenhum ódio contra aqueles que me colocaram na prisão e tentaram tornar minha vida miserável. Eu os amo”, afirma.

Governos hostis

Não só na Eritreia, mas em muitos outros lugares do mundo, os cristãos estão sob crescente pressão de governos hostis e grupos militantes.

A Eritreia é apontada como um país preocupante no relatório anual de Tendências de Perseguição da Release International.

“Pedimos aos cristãos que fiquem com nossos irmãos e irmãs na Eritreia enquanto eles continuam a passar por esta noite escura da alma”, disse o CEO da Release International, Paul Robinson. “Eles precisam de nossas orações”.

“A liberdade de fé é a pedra angular de todas as liberdades humanas”, declarou.

“Release International continua a apelar à Eritreia para libertar todos os prisioneiros cristãos e permitir plena liberdade de fé mais uma vez no seu país”.

A Release International, sediada no Reino Unido, está ativa em cerca de 30 países. Trabalha por meio de parceiros para apoiar em oração, pastoral e prática as famílias dos mártires cristãos, prisioneiros da fé e suas famílias, bem como cristãos que sofrem opressão e violência e cristãos forçados a fugir.

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