“Estamos confinados, mas o Espírito Santo não”, diz pastor que sobreviveu ao coronavírus

O pastor Marcos Zapata testemunhou como a superação da doença lhe trouxe ensinamentos valiosos sobre seu relacionamento com Deus.


Marcos Zapata é pastor da igreja Buenas Noticias e presidente da Aliança Evangélica da Espanha. (Foto: AEP)
A Espanha tem enfrentado uma crise que talvez seja sua pior em 40 anos, desde o país se tornou uma democracia moderna, há 40 anos. O novo coronavírus já matou mais de 23 mil pessoas e infectou pelo menos 226 mil. Mas em meio a essa crise evidente, o testemunho de um pastor tem ajudado a trazer esperança e fé.

Marcos Zapata é pastor da Iglesia Buenas Noticias (Igreja das Boas-novas) em Lugo, Espanha e também atua como presidente da Aliança Evangélica Espanhola. Ele relatou em um artigo para para a revista ‘Christianity Today’ como a experiência impactante de sobreviver ao coronavírus após ser internado aumentou sua fé e o aproximou de Cristo.

“Nossas igrejas evangélicas não foram poupadas desta pandemia e eu estou entre os que foram hospitalizados com o COVID-19”, contou Zapata. “Sou pastor de uma congregação com 350 pessoas em uma pequena cidade na costa do Atlântico. Também sirvo como líder nacional da minha denominação e como presidente da Aliança Evangélica Espanhola. Mas fiquei estagnado após ter sido infectado”.

Depois de 21 dias de luta contra a doença, tanto em casa quanto no hospital, pastor Marcos recebeu alta e já passou a agradecer a Deus por isso.

“Fiquei agradecido e cheio de alegria; também estava muito consciente de que outros, mesmo mais jovens e saudáveis que eu, haviam perdido a vida”, disse.

Mas Zapata destacou que continua sensível à situação preocupante que seu país está enfrentando, o que inclui até mesmo alguns de seus familiares.

“Ainda estamos sofrendo como país, à medida que caminhamos em direção a um futuro incerto. Na minha família, alguns ainda estão combatendo o vírus - incluindo minha esposa e minha sogra”, lembrou.

A impactante experiência que vivenciou levou Zapata a aprender algumas lições importantes sobre sua fé, o amor a Deus e ao próximo em meio a uma pandemia. O pastor listou tais lições em seu artigo publicado para a revista

“Devemos nos lembrar de que não somos invencíveis”

Na primeira lição que mostra ter aprendido, Zapata destacou que o coronavírus o ajudou a se libertar de uma imagem que muitos pastores acabam carregando consigo à frente de suas igrejas.

“A primeira conclusão é para aqueles que, como eu, atuam na liderança cristã. Enquanto me recuperava, a lição óbvia que extraí é que não sou um super-humano. Como pastores, vivemos no mesmo mundo que todos os outros, com os mesmos conflitos e riscos. Somos vulneráveis - e é exatamente isso que nos qualifica para a liderança”, afirmou.

“A liderança daqueles que parecem alheios ao sofrimento nunca produzirá discípulos, somente admiradores. Meu tempo de sofrimento e luta contra a doença me lembrou mais uma vez que o Pai já enviou um Salvador - e eu não sou ele”, acrescentou.

O pastor também destacou o quanto foi bom sentir-se cuidado e acolhido por sua comunidade.

“Ficar doente também me mostrou a importância de pertencer a uma comunidade. À medida que as pessoas ficavam sabendo que eu estava infectado, reagiam imediatamente, em oração, em minha igreja local, em igrejas de toda a Espanha e até em outras partes do mundo. Amigos e pessoas que eu não conhecia me enviaram mensagens de apoio e orações de fé e amor. Tudo isso foram doses de encorajamento em meus momentos mais difíceis”, lembrou.

“Devemos reavaliar nossa vida”

O pastor Marcos também lembrou que momentos críticos como o de uma infecção com coronavírus, inevitavelmente leva o ser humano a refletir e rever sua própria vida.

“Quando você está envolvido em uma igreja que cresce em números, com projetos sociais, plantação de igrejas etc., doenças inesperadas surgem como uma pausa repentina e indesejada para muitas coisas”, disse. “Inicialmente, é um choque e, depois, chegam as fases de raiva, barganha e, finalmente, aceitação. A doença leva a um processo pessoal que, se tudo correr bem, pode durar horas ou dias”.

“No começo, eu tinha dúvidas sobre o propósito do meu sofrimento por meio do COVID-19. Mas, depois que aceitei minha situação, fiz duas constatações”, confessou.

A primeira dessas constatações, segundo Zapata, foi a que Deus realmente o ama e se importa com ele.
“Nos dias em que eu estava gravemente doente, tive de considerar a morte uma possibilidade real. 

Como eu avaliaria minha vida? Na área de ministério e profissão, eu estava em paz. Mas a tristeza apareceu quando pensei em meus filhos. Será que eu conseguiria testemunhar a realização de seus sonhos e objetivos? Mesmo assim, experimentei a tranquila paz de saber que, se eu morresse, Deus cuidaria de minha esposa e meus filhos”, explicou.

A segunda constatação, segundo Marcos, foi se identificar com a dor de tantas pessoas que estão passando pelo mesmo sofrimento.

“É inestimável o que a doença pode trazer à sua alma se você estiver pronto para, ao longo do processo, deixar Deus expandir seu coração. Acredito firmemente que Deus é poderoso o suficiente para me curar, assim como foi poderoso o suficiente para me salvar. E não acredito que a doença seja um castigo enviado por Deus. Mas, enquanto esperava com fé pela cura de Deus, pude entender melhor que outros estavam sofrendo também”, afirmou.

“Não devemos brincar com teologias triunfalistas”

Outra lição que Zapata aprendeu ao superar o coronavírus foi de não subestimar uma pandemia e muito menos usar a teologia para isso.

“Vimos a crise na China e dissemos: ‘Isso é na China; está longe’ e não nos preparamos. Depois, aconteceu na Itália e dissemos: ‘É na Itália; não virá para a Espanha’. Na verdade, alguns torcedores de futebol até mesmo viajaram à pior área do país vizinho em termos de contaminação a fim de assistir a um jogo da Liga dos Campeões. O torneio foi suspenso mais tarde e, agora, é irrelevante”, disse.

Zapata lembrou que o papel da igreja em tempos de crise é responder com sabedoria e não distorcer as Escrituras para criar uma falsa sensação de paz nas pessoas.

“As igrejas têm um papel fundamental a desempenhar, respondendo com sabedoria a esta crise. O problema que estamos vendo é uma teologia débil que afirma que precauções se opõem à fé, uma teologia triunfalista que alega sermos imunes ao vírus em razão de nossa fé”, afirmou.

“A partir disso, surgem ideias como a de que os cristãos não precisam obedecer às diretrizes das autoridades, pois Deus nos protegerá. Esse é um erro grave e terá consequências desastrosas. Os pastores que pregam tais ensinamentos terão de prestar contas a Deus e aos homens”, acrescentou.

"Sejamos igrejas vivas e ativas, mais do que nunca"

Finalizando seu artigo, Zapata relatou como sua igreja tem buscado fazer a diferença em meio à pandemia.

“Nossa comunidade não é muito grande e estamos em uma cidade rural, com cerca de 100 mil habitantes. Poderíamos pensar que somos fracos e pequenos diante desta pandemia. A crise também reduziu consideravelmente a arrecadação financeira de nossa igreja”, contou.

“No entanto, conseguimos aumentar nossa ajuda social, a fim de aliviar os efeitos da crise entre as famílias vizinhas. Tentamos aplicar Mateus 5.16, que diz: ‘suas boas obras devem brilhar, para que todos as vejam e louvem seu Pai, que está no céu’”, disse.

A iniciativa da Iglesia Buenas Noticias mostrou que seu tamanho físico não necessariamente determina o alcance de suas ações. Sua igreja desenvolveu um plano de ação em três frentes para dar apoio à comunidade.

“No nosso caso, isso significou desenvolver um plano de ação com três frentes. A primeira é a ajuda de emergência, fornecendo assistência financeira às famílias mais vulneráveis. A segunda é um programa de distribuição de alimentos. Entregamos três toneladas de produtos frescos a cada quinze dias e entregaremos 72 toneladas de alimentos não perecíveis nos próximos dias. Graças à rede que construímos nos últimos anos, agora estendemos essa ajuda a 900 famílias - ou cerca de 3 mil pessoas”, explicou.

“A terceira é uma nova linha ministerial que iniciamos, em relação ao suprimento de itens de saúde. Isso é possível graças a nove membros da nossa igreja, que fazem jalecos médicos, capas de sapatos e bonés. Eles criam essas peças com uma matéria-prima fácil de encontrar: sacolas plásticas”, acrescentou. “Terminaremos este programa quando os recursos prometidos pelo governo chegarem a esses locais. Enquanto isso, seguiremos servindo nossa comunidade. É verdade que estamos confinados - mas o Espírito Santo não. ”.

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