Mulher escapa após 8 anos escrava do Estado Islâmico: ‘Deus me deu vida nova’

Cinco meses após se casar, Sousan foi sequestrada por terroristas do ISIS, junto com sua família, quando tomaram a cidade onde viviam no Iraque.

Sousan (à esquerda) e sua mãe, reunidas, usando as medalhas que a FBR lhes concedeu por bravura no sofrimento. (Foto: Free Burma Rangers)

Sousan foi levada por terroristas do Estado Islâmico (ISIS), que tomaram a cidade de Sinjar, norte do Curdistão, no Iraque, onde ela morava. O ataque à jovem Yazidi de 16 anos aconteceu cinco meses após seu casamento, em agosto de 2014.

A história de Sousan foi divulgada por David “Dave” Eubank, fundador da Free Burma Rangers (FBR), uma instituição cristã que ajuda perseguidos de todas as religiões, especialmente em Mianmar (Birmânia), no Sudão e no Curdistão, no Iraque.

Segundo Dave, a investida contra a cidade de Sousan se deu após o ISIS já ter atacado e tomado grande parte do Iraque e da Síria.

“Eles atacaram o lugar com metralhadoras, tanques e morteiros, destruindo tudo à sua frente. Eles consideram nobre e bom matar homens yazidis e que têm o direito de tomar suas mulheres como escravas sexuais”, informa.

Ao capturar os yazidis, os terroristas os encurralavam e separavam os homens das mulheres e depois separavam ainda mais os homens dos meninos. “Para distinguir entre homens e meninos, eles levantavam o braço e se houvesse pelos nas axilas, significando que ele estava amadurecendo, eles o matavam, junto com os pais. Se ele não tinha pelos nas axilas, isso significava que ele era jovem o suficiente para fazer uma lavagem cerebral”, de acordo com a FBR.

“O ISIS fez lavagem cerebral em milhares desses meninos, forçando-os a se juntar ao ISIS como combatentes. Muitos deles foram forçados a ser homens-bomba e morreram ao volante de um veículo suicida que colidiu com aldeões e soldados iraquianos e sírios desavisados”, explica a FBR.

Capturados por terroristas

Sousan e sua família tentaram escapar do ataque do ISIS, mas foram todos capturados e seu pai, que nunca mais foi visto, foi levado e supostamente executado pelo grupo. O irmão de Sousan, que tinha 14 anos na época, também foi levado e eles não têm certeza se ele está vivo ou morto.

A mãe de Sousan, ela mesma, suas quatro outras irmãs e seu irmão mais novo foram capturados juntos. A jovem relatou que elas foram separadas umas das outras, todas as filhas arrancadas de sua mãe, gritando porque seriam estupradas.

Sousan diz que foi levada e imediatamente estuprada e espancada, separada de sua mãe com outra irmã que acabou sendo separada dela também. As demais mulheres foram todas estupradas, incluindo sua mãe, e forçadas a serem escravas de vários combatentes do ISIS. Depois, sua mãe e todos os irmãos foram vendidos.

Ela mesma foi vendida em diferentes mercados no oeste do Iraque e nos desertos da província de Anbar, até que finalmente foi vendida para Al Qa'im na fronteira da Síria e depois para Raqqa, onde foi vendida no leilão de escravos Yazidi no meio do estádio de Raqqa, na Síria.

Raqqa era a capital do ISIS e é lá que eles planejavam dominar o mundo, diz Dave. “Foi no estádio que as mulheres foram vendidas pelo lance mais alto e há masmorras embaixo do estádio que visitamos após a libertação que mostram as torturas que as pessoas sofreram sob o ISIS. Sousan era uma dessas garotas”, conta Dave.

Tentativa de ajudar Sousan

“Estávamos na Birmânia quando o ISIS lançou aquele ataque contra os Yazidis em 2014 e oramos pelo povo, mas estávamos no meio de nossa própria luta na Birmânia. No início de 2015 fomos convidados, e Deus abriu um caminho para ajudarmos”, relata Dave.

“Um dos primeiros lugares que visitamos foi a montanha Sinjar, com vista para a cidade dominada pelo ISIS. Pouco mais de 100.000 yazidis escaparam e estavam escondidos na montanha. Íamos com nossa equipe e minha família e dormimos em barracas com os desabrigados e fizemos atendimento médico, odontológico e programas do Good Life Club”,

Alguns membros da FBR desceram para as linhas de frente na periferia da cidade para tratar Peshmerga feridos, soldados curdos. “Ficamos muito próximos da comunidade Yazidi e rapidamente conhecemos Fouzi (marido de Sousan) e sua família e ficamos sabendo do destino de sua esposa”, conta Dave.

missionário diz que duas vezes ela conseguiu usar um telefone escondida e pedir ajuda. Nessas duas vezes seu marido Fouzi atendeu e tentou enviar dinheiro por meio de traficantes de pessoas num esforço para comprá-la do ISIS. “Também ajudamos, mas nenhuma dessas tentativas funcionou”, diz Dave.

Ele conta que Sousan continuou sendo vendida para soldado após soldado. Ela disse que queria morrer, mas a lembrança da família e o amor pela mãe, pelo pai e pelo marido a mantiveram viva. “Havia milhares de nós, mas geralmente estávamos separados uns dos outros”, disse a jovem sobre outras mulheres vítimas dos terroristas.

Orações

Dave diz que começaram a orar por Sousan quando ouviram sua história pela primeira vez.

“Conhecemos a família de Fouzi: o nome de seu pai era Faisal, e quando o ISIS foi expulso de Sinjar no final de 2015, sua família foi a primeira a voltar para a cidade em ruínas, onde abriram uma padaria e começaram a alimentar as pessoas”, relata Dave.

Dave conta que Faizal estava grato pelo apoio e quis retribuir ao FBR: “Você nos ajudou tanto que queremos lhe dar algo”. Dave e sua esposa receberam duas alianças.

Perdão de Deus

No final de 2016, o ISIS foi derrotado nas áreas curdas, incluindo Sinjar, e a batalha mudou para Mosul, para onde o FBR foi, com a missão de ajudar os iraquianos.

“Foi lá que nosso tradutor yazidi, Shaheen, morreu tentando salvar outros árabes. Ele, como Sousan, havia sofrido sob o ISIS e conhecia muitas pessoas que foram levadas, incluindo mulheres. E ele odiava o ISIS e, por extensão, odiava os árabes”, conta Dave.

“Mas quando começamos a ministrar aos árabes na batalha de Mosul e ajudar os civis e dar tratamento médico aos soldados iraquianos, e falar sobre o amor de Deus e falar sobre o perdão, seu coração começou a mudar”.

Dave diz que no dia em que o tradutor foi baleado, cerca de quatro horas antes, ele fez uma confissão: “David, quer saber? Eu realmente amo essas pessoas. Deus me deu um amor por essas pessoas. Isso é tão bom. Eu quero ajudá-las. Eles também estão sofrendo. Eles estão sofrendo sob o mesmo mal. Estou mudando meu coração – Deus está mudando meu coração”.

Depois, ele sorriu e apenas algumas horas depois, quando fomos buscar uma família que havia sido baleada, que ele foi morto tentando salvar esta família. “Na verdade, ele foi baleado tentando salvar esta família e morreu nove dias depois”.

Oportunidade para escapar

Dave diz que as mulheres Yazidi foram tratadas terrivelmente e foram ameaçadas de que, se alguma vez tentassem escapar, seus filhos seriam mortos por essas outras mulheres islâmicas radicais, principalmente de países fora do Oriente Médio.

Havia mais de 52 países representados em Al Hawl, diz Dave. “No auge, havia 70.000 pessoas naquele acampamento. Todo esse tempo oramos para que Sousan fosse libertada e quando visitamos Al Hawl em 2019, procuramos por qualquer sinal dela e não tínhamos nenhum”.

“A essa altura, seu marido, Fouzi, soube que ela havia sido morta em um ataque aéreo porque havia sofrido muitos ataques aéreos enquanto o SDF e a Coalizão fechavam o cerco ao redor do ISIS nas diferentes batalhas em Raqqa e ao longo do Eufrates e finalmente em Bagouz. Pensando que ela estava morta, Fouzi se casou novamente e logo teve dois filhos”.

Mas Sousan conseguiu sobreviver. Em meados de outubro de 2022, ela disse que finalmente reuniu coragem e quando se aproximou de um guarda do SDF em Al Hawl, falou: “Eu sou Yazidi, por favor me ajude.”

Por um milagre, a guarda disse: “Venha comigo”. Ela levou Sousan para fora do acampamento. Como ela não tinha filhos para ser mantida como refém, era mais fácil para ela escapar.

Sousan disse que estava apavorada com o que poderia acontecer com ela, mas achou melhor ser morta pelo SDF do que viver uma vida de miséria e ser vendida talvez novamente no futuro e, enquanto isso, espancada por mulheres estrangeiras do ISIS.

Dave diz que quando retornaram ao Iraque para a próxima missão na Síria ouviram de um de nossos parceiros, chamado Ezadine, que Sousan, a senhora por quem orávamos em 2015, havia realmente escapado e estava de volta com sua mãe.

“Eu disse a ele para trazê-las em nossa casa. A filha e a mãe vieram, junto com um cunhado, e nos contaram sua história”, diz Dave.

“Elas começaram a chorar e ao contar suas histórias, estavam chorando e muito tristes. E nós choramos com elas e as abraçamos e oramos com elas e falamos sobre o amor de Jesus e contamos o quanto tentamos resgatá-las”, diz Dave.

Na tentativa de alegrá-las, Dave diz que fizeram brincadeiras com elas: “Deus nos ajudou e elas começaram a sorrir e, finalmente, ao final de cerca de quatro horas, ambas estavam rindo, se abraçando e nos abraçando”.

“Deus nos deu uma vida nova. Faremos o melhor possível. Nosso pai, temos certeza que ele está morto. Nosso irmão, não sabemos, mas o resto de nós está vivo e começando uma nova vida na Alemanha”.

A FRB entregou Bíblias em diferentes idiomas, além de ajuda financeira à Sousan e sua família. “Nos comprometemos a ajudá-las da maneira que pudermos como parte de nossa família”, diz Dave.

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